Charge de Flamir Ambrósio.
“Em
Hobbes, o racionalismo de Bacon se transformara em um ateísmo e
materialismo inflexíveis; uma vez mais, nada iria existir, a não ser
‘átomos e o vazio’”, disseca Will Durant, concernente à ascensão do racionalismo e o nadir da crença em Deus.
Neste
ensaio analisaremos o ateísmo, primeiramente, definindo o étimo e seu
desdobramento nas Escrituras. A seguir, conceituaremos o ateísmo e
faremos uma síntese do pensamento de quatro filósofos: Nietzsche, Marx,
Sartre e Camus.
Definição
Etimologia: O vocábulo ateu é formado pelo prefixo grego de negação a (“não”, “provação”, “negação”) e pelo substantivo theos, isto é, “deus” ou “Deus”. Literalmente, atheos
significa “sem Deus”. A palavra “ateísmo”, no entanto, é formada pelos
dois termos anteriores e o sufixo “ismo” que denota “doutrina”,
“sistema”, ou “ensino”. O ateu é aquele que não crê em Deus, enquanto o ateísmo designa a filosofia ou os ensinos dos ateus.
Novo Testamento: O termo aparece uma única vez no grego neotestamentário em Efésios 2.12: “que naquele tempo, estáveis sem Cristo [khōris Christou], separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus [ắtheoi] no mundo”. (grifo nosso).
O termo grego ắtheoi,
neste contexto, tem o sentido de “não pertencente a Deus”, “sem Deus”,
em vez do significado corrente de negar racionalmente a existência de
Deus, como o fazem os filósofos ateus. O tipo de ateísmo que este termo
(que é um hapax legoumenon[1]) descreve é o denominado “ateísmo prático”, ou seja, aquele que vive como se Deus não existisse ou que a divindade não tem qualquer significado para ele, quer exista quer não.
Neste sentido, pode até mesmo ser uma pessoa teísta, mas que não
conhece o verdadeiro Deus: “Porque, ainda que haja também alguns que se
chamem deuses, quer no céu quer na
terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia, para nós há um
só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor,
Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele” (1 Co 8.5,6). Observe que ắtheoi
no texto de Efésios, não pretende afirmar que a pessoa não crê em
alguma divindade, mas que ignora a existência do Deus de Israel. É assim
que devemos entender o advérbio de negação khōris, traduzido em diversas passagens por “separadamente”; “à parte de alguém”; “longe de alguém”. Literalmente a expressão khōris Christou, quer dizer “longe de Cristo”, “afastado de Cristo” e não antichristo, isto é, “contrário ou oposto a Cristo”.
O
texto de Coríntios não deixa de ser menos revelador. Paulo reconhece
que as nações pagãs possuem suas divindades nacionais, entretanto, há um
só Deus. Veja que estas não são culpadas de ateísmo, mas politeísmo,
por não crerem no único Deus verdadeiro. A própria expressão theoi polloi,
isto é, “muitos deuses” formam a palavra “politeísmo” [polli-teos] (cf.
1 Co 8.5). Portanto, à luz de Efésios 2.12, “sem Deus”, ắtheoi, quer dizer “sem o verdadeiro Deus de Israel”.
Portanto,
do ponto de vista histórico, o ateísmo em certas circunstâncias
corresponde à rejeição de deuses privados ou de uma divindade em
especial. É assim, por exemplo, que
devemos
entender a acusação de ateísmo contra Anaxágora e Sócrates. O primeiro
condenado de ateísmo por afirmar que o sol era maior que o Peloponeso e,
o segundo, por "corromper" os jovens e negligenciar os deuses durante
uma cerimônia de adoração. Até mesmo os cristãos foram considerados
ateus no Império Romano. No século II, Justino fez referência à acusação
de ateísmo contra os cristãos. Em sua Primeira Apologia
escrevera a respeito da turba colérica que gritava contra os cristãos
“Morte aos ateus, morte aos sem-Deus”. Em resposta, o apologista
sentenciou: “Somos ateus de todos os pretensos deuses”. Estas
manifestações são consideradas como “pseudo-ateísmo”, uma vez que os
envolvidos criam em alguma divindade, mas rejeitavam a forma grotesca,
antropomórfica e pagã de certos cultos e religiões.

Antigo Testamento:
Não há no Antigo Testamento um termo hebraico próprio para expressar o
conceito de ateu à semelhança do grego neotestamentário. Em Salmos 14.1,
o nābāl,
isto é, “o louco”, “insensato” ou “ateu” é aquele que vive como se Deus
não existisse (cf. Sl 53.1). Este é o louco que blasfema contra o
Senhor (Sl 74.18). O povo de Israel também é definido como ‘am nābāl,
isto é, “povo insensato ou ateu” em razão de não reconhecer os grandes
benefícios proporcionados pelo Senhor Deus de Israel (Dt 32.6). Nestas
referências, o termo hebraico nābāl
designa, provavelmente, não alguém que está sinceramente convicto de
que Deus não existe, mas que está mal orientado quanto à existência de
Deus. O texto da Septuaginta – tradução grega do texto hebraico – verte o
termo hebraico citado por ăphrōn, ou seja, “tolo”, “ignorante”. A expressão Oủk ĕstin Theos, isto é, “Não há Deus” denuncia o estado de completa ignorância e tolice de quem assim pensa e vive.
O
ateísmo tanto prático quanto teórico é, segundo as Escrituras, a
principal causa da corrupção e degeneração do homem (Sl 14; 53; Rm
1.18-32). O insensato que vive como
se Deus não existisse ou que O confunde com a criação, possui um
“coração insensato” (Rm 1.21). No original a expressão “coração
insensato” (ăsynetos kardia), literalmente é “sem entendimento de coração”. Se considerarmos o termo kardia
de acordo com idiomatismo hebraico, podemos afirmar que o ateu ou
insensato é “aquele que vive sem o conhecimento de Deus”. E, pelo que se
depreende de uma leitura atenciosa de Romanos 1.18-32, o ateu ou
ignorante é aquele que não conhece o Deus único e verdadeiro. Vários
termos empregados por Paulo se relacionam diretamente à falta de
episteme ou conhecimento correto acerca de Deus. Vejamos:
v. 18: Apokalyptetai (Descoberto está)
v. 19: gnōston (que se pode conhecer); phaneron ( manifesto)
v. 20: nooumena (entendidas)
v.21: gnontes (tendo conhecido); dialogismois (cogitações);asunetos (sem entendimento)
v.22: sophoi (sábios); emōranthēsan ( se fez estulto)
v. 28: epignōsei (conhecimento sobre)
v. 31: asunetous ( sem entendimento)
v.32: epignotes (tendo conhecimento sobre)
Conceituação
O
ateísmo é a doutrina filosófica que admite a não existência de Deus.
Segundo o ateísta, não há qualquer prova relativa à realidade de Deus,
pois as evidências pressupõem a não existência de qualquer divindade.
Com o advento do racionalismo, os filósofos e humanistas seculares
passaram a considerar o conhecimento religioso como uma espécie de
conhecimento mítico, necessário à humanidade enquanto esta ainda
estava em sua gênese. De acordo com a epistemologia, o conhecimento
religioso cumpria uma função teleológica, isto é, das causas e dos fins.
Como o homem primitivo não sabia explicar as causas dos fenômenos
físicos, atribuía a essas manifestações da natureza causas metafísicas
ou divinas. No entanto, com a ascensão da ciência e do conhecimento não
há qualquer necessidade de Deus ou de divindades para explicar os
fenômenos físicos ou a existência do universo.
Todavia,
nesse princípio argumentativo há muito preconceito em relação ao que é
ou não científico. Se entendermos como pré-científico todo o
conhecimento anterior à ciência moderna, onde fica a matemática, a
lógica, a filosofia? Deixaram de ser ciência
com
o advento da modernidade? Se pré-científico deve ser entendido como
anticientífico, isto é, como mito ou mágica, é muito mais provável que a
ciência tenha sua gênese nessas manifestações religiosas do que o
cristianismo. Se o “poder místico ou mágico” se refere à manipular as
forças da natureza por meio de fórmulas, rituais, plantas e palavras,
isto não seria uma pré-manifestação do tecnicismo, por meio do qual tudo
se transforma? Não se pode argumentar ad absurdum que o cristianismo
compactua com a magia, uma vez que a
tradição cristã sempre se opôs a esse tipo de religiosidade. No
entanto, o cristianismo não apenas admite como também ensina a
intervenção divina nas forças naturais do universo. Mas não se trata de
manipulação por palavras mágicas, mas da ação soberana da vontade de
Deus. Os cristãos também ensinam que toda a criação foi criada por Deus
com um propósito específico; que Deus Criou e estabeleceu as leis
físicas que os próprios cientistas investigam.

Como teoria do conhecimento, o ateísmo distingue-se do ceticismo, do agnosticismo e do teísmo. Vejamos:
O Cético: Duvido que Deus existe. Não tem certeza .
O Agnóstico: Não é possível saber se Deus existe. Não é possível saber .
O Ateu: Deus não existe. Está convicto.
O Teísta: Deus existe. Está convicto.
O Cético: Duvido que Deus existe. Não tem certeza .
O Agnóstico: Não é possível saber se Deus existe. Não é possível saber .
O Ateu: Deus não existe. Está convicto.
O Teísta: Deus existe. Está convicto.
O Ateísmo e a Filosofia
A
filosofia é uma das mais extraordinárias manifestações do conhecimento e
da razão humana. No entanto, por várias vezes, recusou-se a admitir o
verdadeiro conhecimento. Não há sabedoria e amor ao conhecimento quando
se nega a existência de Deus. Célebres filósofos se equivocaram ao
afirmar a não existência de Deus. Entre esses destacamos.
F. Nietzsche: Afirmou categoricamente que os deuses estão se decompondo e que Deus está morto.
Karl Marx: Escreveu que possuía ódio a todos os deuses e, que a religião é o ópio do povo.
J. Paul Sartre: Sentenciou que se Deus existe, o homem é um nada; se o homem existe, Deus não existe.
Albert Camus: Consolidou
o conceito de Nietzsche de que Deus está morto, e que o filósofo não
matou a Deus, mas o encontrou morto em seus contemporâneos.
Características do Ateísmo Moderno
O ateísmo moderno possui como principais características:
Anticristão: Não se opõe apenas as religiões, mas procura combater severamente o cristianismo. Para eles o Deus cristão é fraco e obsoleto.
Preconceituoso:Para o ateu moderno os cristãos são pessoas incultas, fracas e omissas aos problemas políticos e sociais.
Antidogmático: Rejeitam
qualquer dogmatismo religioso. Não aceitam as doutrinas e valores
cristãos. Considerando-os desnecessários e anacrônicos ao homem moderno.
Partidários: Muitos
opositores do cristianismo e da moral cristã são partidários de grupos
marxistas que ainda consideram o cristianismo como atraso à civilização
em constante progresso.
Soli Deo Gloria!
fonte: http://teologiaegraca.blogspot.com/2008/05/introduo-bblica-ao-atesmo.html
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